sábado, 1 de dezembro de 2012

I Concurso de Poesia Autores S/A


O I Concurso de Poesia Autores S/A contou com 94 inscritos, sendo três deles de Portugal. Nesta edição, os inscritos puderam opinar quais eram seus gostos literários, e os autores mais citados foram Fernando Pessoa, Machado de Assis e Clarice Lispector.
            Foi uma boa surpresa para os organizadores, afinal, se tratou da primeira edição de um concurso, cujo período de inscrições foi de apenas 1 mês exato. A banca de jurados foi composta por 3 nomes fixos: Ângelo Farias (professor), Ludmila Maurer (professora e escritora) e Nilto Maciel (crítico e escritor). Os jurados selecionaram 15 poetas para as fases finais. Outros dois poetas foram classificados em uma repescagem, totalizando, então, 17 finalistas.
            As finais foram eliminatórias. A cada etapa temática, três poetas iam para o Campo Platônico (uma espécie de Paredão, uma enquete) através do somatório dos jurados e dois poetas deixavam a competição através do voto do público-leitor. Ao final, restaram apenas dois poetas, ambos do Rio de Janeiro.
            Foi uma disputa acirrada, transparente e de grande qualidade. Um concurso diferenciado, que surpreendeu um bom número de leitores e que em 2011 ganhou uma antologia, o “Poesia.com”, editado pela Multifoco.
            Abaixo, você poderá conferir todos os poemas das fases finais do concurso, bem como os comentários dos jurados que foram dirigidos a eles. Poderá conferir também outras novidades referentes ao certame, como depoimentos dos poetas participantes. Soltem os cintos: e boa viagem.
 
POEMAS DA 1º FASE – PRÉ-SELEÇÃO
 
Chamado (J.J.Wright), Riachão do Jacuípe, Bahia. 22 anos.
 
Em Tókio, um homem escreve um poema:
 
Fantasmas transitam na calçada da fama.
Toda
s as luzes se acendem em Paris.
O universo conspira contra os Vikings.
A mulher tem orgasmos múltiplos.
O disco voador pousa em Londres.
Três mariachis cantam em Florianópolis.
Crianças morrem no oriente médio.
O robô japonês salva a humanidade.
O presidente do Chile envia um SMS.
Duas mulheres se beijam em Chernobyl.
O vampiro ataca a mocinha indefesa.
Moisés divide o mar vermelho em dois.
Elvis canta Love me Tender no rádio AM.
O cowboy mata mil e oitocentos índios.
Romeiros escalam milhares de degraus.
 
Em Tókio, o poeta pára de escrever:
O mundo inteiro pára junto.
 
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Quintal (O Velho), Macaé, Rio de Janeiro. 50 anos.
 
No quintal da minha casa
quando, às vezes, me distraio
pardais dividem os pedaços de pão
colocados ao acaso
sempre no mesmo lugar
no quintal da minha casa...
 
no quintal da minha casa
quase todas as coisas tem asas
borboletas sobre margaridas e flores do mato
gafanhotos que devoram bertalhas
e toda a imaginação que voa à solta, sem pressa
no quintal da minha casa...
 
no quintal da minha casa
o peito arde em brasa
quando penso em fazer nada
ouvindo uma música silenciosa
tocando insistentemente
entre a mangueira e o banco da varanda...
 
no quintal da minha casa
me entorpeço com o cheiro da erva cidreira
olho o verde das bananeiras
às vezes, repico o sino
só pra quebrar a maravilhosa monotonia...
 
contemplo parado meu jardim
de trevo de quatro folhas...
esmiúço os mais longínquos
cantos do pensamento
e tento organizar o quebra cabeças
da minha memória
remonto todas as fases emocionantes
da minha história...
 
me aborreço e me alegro
no caminho de pedras
que montei enquanto chovia
e eu cantava
no quase perfeito
lado direito
de quem entra
do quintal da minha casa
 
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Poema Vivo (SemprePoeta), Ipatinga, Minas Gerais. 46 anos.
 
Um poema fica bem
na camiseta,
na ponta da estrela,
sobre a mesa de cabeceira,
no guardanapo de papel,
em qualquer bandeira,
e no balão acima do arranha-céu.
Até mesmo no cordão da feira,
no banco da igreja,
da praça e do Brasil.
Dobrado nas notas de mil
e da canção.
 
Um poema pode singrar
os mares dentro da garrafa.
Pode estar
no poste, no pranto,
no riso contente
e no sol-nascente.
Levado pelos ventos
pode ficar amassado na calçada,
na calcinha pertinho do prazer,
no para-choque do caminhão,
no muro da escola, nos jornais
e impresso na sacola de pão,
já que poesia e pão
são alimentos vitais.
 
 
Um poema
só não pode ficar
dentro do livro fechado,
na estante
esquecido, esquecido...!
 
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Dilema (Alan de Longe), Betim, Minas Gerais. 42 anos.
 
Como escrever poesia
ante as obrigações do dia-a-dia,
que nos vergastam com seus açoites
e se há também as obrigações das noites?

Como escrever poesia
se há que se ganhar o pão de cada dia,
com o essencial suor de cada rosto
e se há os gases, as dores e o desgosto?

Como escrever poesia
se se tem o trabalho que abençoa o dia,
os desejos de hoje, sempre e de outrora
e a dinâmica do passar das horas?

Como escrever poesia
se o cantar do galo anuncia o dia,
o despertador intermitente no horário
e a eterna defasagem do salário?

Como escrever poesia
se, a cada dia, é menos um dia,
se me aperta o sapato que calço
e a morte a espreita, no encalço?

Como escrever poesia
havendo a nostalgia do transcorrer dos dias,
mas se, somente ela me alivia,
como não escrever poesia?
 
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O Sol da Realidade (Paul Celan), Taguatinga, Distrito Federal. 46 anos.
 
Chega!
Não quero mais a vaporosidade do espírito,
os lençóis da aurora, o velho chinês sonhando com
a borboleta que sonha com o velho chinês;
Quero a pedra apenas sob o sol da
realidade;
Quero apertar a mão do homem que cavou uma
cisterna o dia inteiro e justificou seu salário
com os metros da sede;
 
Quero os cães, a vida pura das ruas,
os pássaros roendo o crepúsculo;
 
Quero a verdade do poeta que cantou
os pendões da liberdade;
 
Quero a alegria daquele que plantou e colheu
e alimentou muitos irmãos
com as espigas de sol.
 
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Insólita (León Bloba), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 anos.
A língua procura para um dueto
Teu lábio insueto, sisudo sorriso.
Minha boca sonâmbula,
Insólita, perdida,
Sonhando seu toque
No sonho se guia.
Cigana noturna,
Nômade passeia.
Em meu pensamento
Murmura teu nome,
Serpente insone.
Dormente ela dança,
Balança ela louca
E lambe dormindo
Um céu estrelado
No sonho assanhado
No céu de sua boca.
O beijo é o encontro,
Um poço profundo...
Imaginar tua boca
É recriar outro mundo!
 
Em sonho sonâmbulo,
Meu lábio aflito,
Procura o seu lábio
Num sonho infinito.
O real se faz sábio:
Acordado não sinto.
 
Que louca essa boca.
Tão pouca em si arde
Que busca outra boca
De outra cidade.
Se embrenha no sono
E mais cedo ou mais tarde
Encontra o seu dono
No sonho que invade.
 
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Batalha (Príncipe Desavisado), Juiz de Fora, Minas Gerais. 29 anos.

poesia é batalha
da qual só se sai morto
sujo ou no mínimo esfolado
tal coito de gato porém
silêncio guardado.
 
poesia não é lugar para musa
antes é passeio pela itabira
de cada um é mergulho no capibaribe
de cada um; movimento há
entre a primeira letra lá no alto
e o último ponto ali adiante.
 
poesia é batalha
que se vence vencido
a que se dá a vida empresta o ventre
por migalhas de um espelho
que não reflete embaralha a vista.
 
viver é estar
constantemente
em estado de poesia.
 
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Tabuleiro (Cervan), Piracaia, São Paulo. 25 anos.
reis e rainhas administram
tudo do alto de suas torres

bispos engordam suas contas
doutrinando seus rebanhos de cavalos

em meio a isso
peões tomam xeque especial
 
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Vira e mexe, eu me descubro (Ivanúcia Lopes), Marcelino Vieira, Rio Grande do Norte. 23 anos.
 
Com medo, cubro o rosto: deixo os pés de fora.
Me recolho. Me encolho.
Não tem jeito: vivo me descobrindo.
- o meu lençol encolheu ou meus medos que cresceram?

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Íthaca (Paracauam), Trofa, Portugal. 47 anos.
 
chegou o tempo das cerejeiras
perfumes brancos
e os céus imaculados
sem satélites artificiais
e possibilidades reduzidas
de precipitação
máscaras que caem...
personagens descaracterizadas
um grama de tempo
no bordo da vela que apaga
palco vazio cena aberta
frutos vermelhos que beijam
o arco do céu da boca
flores descortinadas e vento
verde a arreganhar narinas
os cruzados retornam
muitos anos depois
com saudades dos cheiros
das cerejeiras
e das colunas dos claustros
só Ulisses não volta
só, Penélope espera
só faz e desfaz
as noites que se fazem dias
Penélope definha esperanças
alimentada de eminências
de retorno
do caos do retorno
todos os corpos atraídos
pelo canto da sereia
têm tendência
a retornar à inércia
aceleração constante
retorno à origem
trabalho nulo
cruzadas
via crucis delenda Cartago
contagem recessiva
marcha lenta
um império inteiro
no bolso da gabardina
e a comissão de frente
evolui
apresenta seus enredos
e os dedos do prestidigitador
enregelados
engelhados
tortos como as garras das
Hárpias
o som das liras
violinos e berimbaus
corpo seco teso e torto
corpo belo corpo morto
procissão de carpideiras
stabat mater dolorosa
aríetes
catapultas
panóplia
generais directores de bateria
Faraó de Mestre-sala
Astronauta Porta-bandeira
escola de samba Mandarim
apnéia paranóica
mulheres-girafa árvores-garrafa
bandeiras despregadas
as fronteiras invadidas
catedrais submersas
e cerejeiras em flor
enchem o céu com nuvens
de pétalas brancas
os frutos estalam
vermelhos
como o canto dos monges
 
 
a urdir tapeçarias eternas
para contar da ausência
dos heróis...
 
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A triste confusa realidade (Zé das Lavouras), Trajano de Moraes, Rio de Janeiro. 16 anos.
 
Nada o que você vê
É o que você pensa ter visto
É apenas um cisco
Do que deveria ter visto
 
O que você acha que quer
Não é o que você acha querer
É o que a sua consciência quer que você queira
O que você quer é poder realmente ver
 
O que você realmente acha querer
É poder ver o que você vai ser
E você acaba de descobrir
Que você não quer, não vê, não é
E nem crê.
 
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Canção em silêncio (Ambrosio Marrozinho), Casa Verde, São Paulo. 32 anos.
 
vou fazer uma canção
leve, que fale dos silêncios,
de quando quis te falar
e foi tudo em vão
 
vou fazer uma canção
que fale por onde andei
e as ruas sem nome
que aprendi,
 
vou fazer uma canção
sem datas, sem dias
mas com sons de tardes
e noites nuas
 
vou fazer uma canção
sem refrão barato
sem coro, para que possa
ser ouvida no silêncio de um livro
 
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Essa senhora (Bambina), Parananguá, Paraná. 23 anos.
 
Essa senhora,
Traz no rosto as marcas da vida
Olhar plácido e vazio
Suas histórias ficam no conto
Da voz rouca pausada
Revive seus dias, antes de chegar ao fim
Essa Senhora
Que traz nas mãos um mapa
Mapa de veias, que contam estórias
Cabelos brancos opacos
Penteia para embelezar
Essa senhora, serena, se conforma
Já vai indo, não há mais o que contar.
 
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Inspiração (R.), Formosa, Goiás. 23 anos.

A inspiração resolveu me visitar.
Após longa ausência,
chamados,
músicas,
café,
miudezas tristes,
gotas de poesia
e rios de realidade...
ela veio me ver.
Espiar como eu ando indo sem ela.
Observar meus sorrisos vazios
e noites de sono (quase) tranquilo.
Tentar entender como prossegui
semi-vivendo sem ela.
Perguntou ao meu último amor
se eu não o enchi de poesia
ele respondeu que nem mencionei que sabia escrever
ou mesmo que tinha uma tatuagem dedicada a ela.
Perguntou aos meus amigos
como era viver com alguém
que carrega aquele olhar vazio,
sem sonhos.
Eles disseram que era suportável,
mas pediram a ela que me resgatasse e trouxesse de volta
o mais rápido possível.
A nobre senhora, então, tentou me encontrar
nas páginas em branco dos cadernos,
no lápis de ponta feita
e nas músicas esquecidas.
Em vão.

A nau da credulidade
e seu companheiro, devaneio
partiram
e me deixaram
à deriva do meu amor.

Inspiração
venha me buscar.
 
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Haiti (Bernardo Cabral), Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro. 39 anos.
 
Haiti...
Ai de ti, José, aí!
Amontoam-se os destroços.
Prédios, estrondo,
Caem em tombos.
Labirinto sem saída.
José corre.
 
Cortam o silêncio os gemidos.
Em outro canto, pessoas aos gritos.
Corre, José!
 
A dor também se encontra
Debaixo da terra...
Terra abatida.
Não há saída, José,
Na fenda dessa terra tremida.
Porque até ali a morte te espera.
Apressado, vai José.
 
Não há esperança, José, na pomba.
Não há saída, na morte.
Morte que, para ti, sorri e te zomba.
Corre, José!
 
Corre
Porque a terra se fez bomba.
Porque vem descendo à noite,
E não existe quem não se intimida
Pela vida, pelos gritos e gemidos,
Entrando pelos ouvidos,
Recaindo na impotência
Das suas mãos.
 
Novamente a terra movediça.
O terror diante da terra partida,
Que estrebucha, parece que desliza.
Um labirinto fechado
É a rua sem saída.
 
E, essa noite, é pior ainda.
Você conheceu, José, a sombra.
A sombra da alma abatida.
Essa, pior que a bomba.
Mas José corre,
Não se intimida.
 
Queria José, cansado, ainda correr.
Corre, José!
Mas José não tem pernas. José tem fome.
Se desilude. Percebe que é homem.
Se consome.
 
Morre o José.
 
REPESCADOS:
 
Título: Braileando teu corpo
Pseudônimo: Anjo (Samambaia Sul, Distrito Federal, 42 anos).
 
Não é de todo cego, o amor que sabe ler.
Se com os olhos não te sinto,
com meus dedos sei te ver.

Minha alma incansável, sedenta por instrução,
busca em teu relevo humano
um pouco de erudição.

Conduzi o meu instinto a decifrar uma questão.
O que pulsa em teu peito
com tamanha emoção?

Peço desculpas meu anjo! Pois, não tive a pretensão.
Apalpei todo teu corpo,
era somente o coração.

Na verdade fui tentado. O teu corpo me traiu.
Em um momento era poema
que tomou forma e se esculpiu.

Condenado duas vezes, me encontro em sujeição.
Privado de ver a luz e
julgado por uma ação.

O direito, que alguém reclama se correto, é perdoado.
A cegueira me fez réu,
só por teu corpo eu ter tocado?

Não me tomes por embuste, trapaceiro inconsequente.
O que desejo mesmo de fato
é ler teu corpo novamente.

A leitura é um vício que não consigo dominar.
Aquece à forja e operes
outra forma para eu te amar.

Se esta sorte é o meu destino, me guardarei de teu amor.
Mas, em meus sonhos a verei
e a levarei por onde eu for.
 
Título: Elizabeth
Pseudônimo: Aline Monteiro (Macapá, Amapá, 25 anos).
 
Elizabeth não chora.
Elizabeth não reclama.
Elizabeth é paciente.
O que será que sonha
Quando adormece?
O que pensa quando
Seu olhar perdido
Se encontra com o meu?
Minha Rainha,
Da tua beleza
Não tenho dúvida
Mas por que não sorris?
 
TOP 17
 
            Nesta etapa, os poetas tiveram que elaborar poemas sobre o tema: “O Velho e o Tempo”. A jurada convidada nesta etapa foi a escritora Márcia Barbieri. De acordo com o somatório das notas dos jurados, os três últimos seriam encaminhados para o Campo Platônico, ou seja, a enquete popular. Dois deles dariam adeus.
 
Pseudônimo: Bernardo Cabral (Cachoeiras de Macacu, RJ. 37 anos).

Título: A. Eliezer

Enquanto você falava e
Contava histórias incríveis, te observava.
Observava a sua fala, teus gestos e riso.
Para não esquecer esse momento,
Te fotografava com a minha memória...
Não te via mais em minha frente
Porque perdia-me olhando o teu rosto.
Você, frágil... Passarinho cantando.
Um dia desses, não muito distante,
Voará para longe.
E levará contigo
boa parte da minha história... Eu sei.
Então, te abracei em silêncio
Para que não percebesse a minha voz.
Te deixei. Segui o caminho estreito de terra.
Segui mais um pouco. Me esforcei.
Você ainda estava em mim.
A respiração vinha na garganta, doía e voltava.
Não aguentei... Chorei.
Mas você não viu.
Não viu com os seus olhos pequenos e cansados,
Já caídos de percorrer a longa vida.
Suas bochechas não possuem o mesmo vigor de antes.
Nas linhas de seu rosto, quantas experiências vividas.
Nas suas rugas... Caminhos daquilo que você viveu e cresceu...
Cresceu e virou um homem;
Cresceu mais um pouquinho, e agora é uma sábia criança.
Mas seus lábios pouco falam.
 
Amo a sua pessoa e memória infinita
De um tempo que para trás... Não volta.
Mas que se perpetua em mim.
 
Uma vida... Um moinho...
O seu moinho de águas limpas,
Movimentam novas águas da minha história.
Herança tua de um tesouro bonito,
Guardados na caixa do tempo
Que jamais esquecerei.
 
 
Ângelo Faria: Você ensaiou uma libertação tão interessante da desopressão, que me deixa curiosíssimo sobre como seria um “A. Eliezer II”. Eu faria, independentemente.
Nota: 7
 
Ludmila Maurer: O poeta está para falar enquanto sujeito; não deve ser falado, como é o caso aqui.
Nota: 5,5
 
Nilto Maciel: Muito palavreado e pouca poesia. É preciso ser mais contido.
Nota: 6

Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim e traz bonitas imagens e metáforas, embora um pouco gastas.
Nota: 7,5
 
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Pseudônimo: Cervan (Piracaia, SP. 25 anos).
Título: Alas
 
ninguém morre de véspera reza o dito
 
no corredor do hospital
de espera morre
sem reza o velho dito
 
 
Ângelo Farias: Acho que você adoraria vários poetas com poesias assim, mas sugiro agora apenas Paulo Leminski. Sua poesia carece de pauloleminskice.
Nota: 6
 
Ludmila Maurer: Um pouco mais de encantamento, porque ‘reza’ a poesia.
Nota: 6,5
 
Nilto Maciel: Apesar da simplicidade dos versos, da atualidade do poema, do problema social, falta mais poesia.
Nota: 7,5

Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim. Traz poucas imagens e metáforas.
Nota: 7,5
 
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Pseudônimo: O Velho (Macaé, RJ. 50 anos).
Título: Apenas saudade
 
um velho
se debruça
sobre suas memórias
revira
os arquivos das lembranças parcas
contempla o crescer
de árvores, flores, matagal
procura antever as raízes
sob a terra fértil
e o pensamento caduco...
 
já escrevia
poesias líricas
histórias lúdicas
antes das palavras
serem inventadas...
 
a pedra pintada
veio muito depois
a arte ainda não existia...
 
chora pelo tempo derramado...
 
o tempo não nos poupa
não nos espera trocar de roupa
não guarda lugar na fila da juventude
que há muito, amadureceu no pé da vida...
 
“-estranhamente
não me reconheço em mim
sei de onde venho
mas parece que não tenho fim...”
 
de olhos vermelhos
corre pro espelho
na vã tentativa de se encontrar:
e lá está ela
a sua imagem
mas não é ele
não ri de si própria
não tem autonomia
é um arremedo de si
triste e breve alegoria
da sua efêmera vida vazia...
 
ancora-se frouxo
num pensamento ordinário
de um tempo imemorial
que lhe trouxe espanto...
 
o branco em seus cabelos
as rugas no seu rosto
não fazem do tempo
um personagem confortável
antes disso, cruel e voraz ...
 
e num acesso de raiva lúcida
decide nunca mais dar corda
em seu relógio de pulso
pois velho como ele
já não aguenta mais
a correria insana e impiedosa
do tempo
impetuoso desembestado...
 
o velho
sem dor
sem medo
sem mágoa
sem pressa
atravessa sua vil existência
na esperança de um dia
ser apenas saudade...

Ângelo Farias: Aposte mais em suas metáforas e no leitor, evite esse tom didático de cinema americano. E as unidades de sentido têm mais expressividade isoladas ou em conjunto? Na hora de decidir, lembre que isso é um valor situado.
Nota: 7,5
 
Ludmila Maurer: Há versos mais fortes e outros que fazem certa força para se segurar. Mas a ‘armadilha do diabo’(lugar comum) quebra o encantamento.
Nota: 6,5
 
Nilto Maciel: Parece-me muito alongado, muito lamentoso. Um retrato do ser velho pintado com piedade.
Nota: 7

Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim e traz bonitas imagens e metáforas.
Nota: 8,5

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Pseudônimo: León Bloba (Rio de Janeiro, RJ. 23 anos).
Título: Fragmento
 
Rompem as portas.
Sopra o tempo.
O velho tem poesia
Pra contemporizar.
Conversa com o tempo
Em telepatia -
O velho se completa
A
o se contemplar.

 

Abrem as comportas.

Jorra a memória.

O velho é a experiência

De se resgatar.

Com verso no tempo

Da reminiscência -

O velho se desvenda

Ao se reinventar.

 

Alisam as barbas.

Escorre a história.

O velho é a saudade

Ao tempo saudar.

Futuro presente passado,

O antes-até-agora invade -

O velho espera na esfera

Ao se fragmentar.

 

Ângelo Farias: Há um ensaio interessante de seleção e associação de imagens, mas parece haver a danada da timidez no caminho. Por que não foge da mera narrativa como mostrou que pode?!

Nota: 7

 

Ludmila Maurer: Houve bons momentos, mas perdeu-se no lugar comum.

Nota: 6

 

Nilto Maciel: O poema precisa de mais poesia.

Nota: 6


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim. No entanto, traz poucas imagens e metáforas, enfraquecendo o poema.

Nota: 7,5

 

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Pseudônimo: Anjo (Samambaia Sul, DF. 42 anos).

Título: Tempo: Meu Velho Companheiro

 

Não posso falar muito por falta de tempo...

O tempo que sempre me incomoda e me acompanha.

Desde que nasci ouço - corra ele está nascendo, não há mais tempo...

Vivi todo meu o tempo em atraso, a fim de tentar enganá-lo em tempo hábil.

São os resquícios do passado que empurrados se acumularam nas esquinas de outono.

Hoje, vejo-o passar de maneira efêmera. Meu relógio? É um objeto que resgata

memórias.

Diluí minha vida em terracota para tingir os crespos cabelos brancos das sarcásticas
horas.

Para ganhar tempo, ele não perde tempo. Às cegas e solitário toca seu violino para as

aves.

A música em seu compasso de quatro tempos, faz tributo ao futuro, que as pressas se

vai...

Este corrosivo e implacável não tem aplausos, nem mesmo uma rosa negra em seu

camarim.

Sua autoafirmação só serve para estabelecer razões, quando diz - no meu tempo era

assim.

Dê-me tempo para pagar-lhe, juro pelos milésimos segundos perdidos. Veja minha

idade!

Seu monólogo temporal vem recheado de conformismo. Mas é a vida meu velho! É a

vida.

 

Ângelo Farias: Verdade, “o tempo não para”. E aposto que um Anjo pode gritar isso ainda mais alto do que quem já gritou antes. Você está numa exploração simbólica que aceita mais ousadia.

Nota: 7

 

Ludmila Maurer: O poema não se cristaliza.

Nota: 5

 

Nilto Maciel: Muito discursivo.

Nota: 6


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim e traz bonitas imagens e metáforas.

Nota: 8,5

 

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Pseudônimo: J. J. Wright (Riachão do Jacuípe, BA. 22 anos).

Título: Na antecâmara do sonho

 

O Tempo,

ah, o Tempo!

Uma sombra incrustada

de remorsos.

 

Nos ossos,

a ação das vozes.

Nos passos,

a imensidão do ócio.

 

O Velho perpassa espelhos.

As luzes se apagam,

restam os destroços.

 

Nos ossos,

a ação das vozes.

Nos passos,

a imensidão invisível.

 

O Velho e o Tempo:

o homem outro

e o instante nenhum.

(a memória e o medo:

imóveis)

 

Nos ossos,

a ação das vozes.

Nos rastros,

a imensidão do silêncio.

 

Ângelo Farias: A poesia areja o “Boitempo” de Drummond. Mas você não quer pegar o boi e gastar o tempo por que, Wright?!

Nota: 7,5

 

Ludmila Maurer: Apesar de uma estruturação do poema mais pensada, falta a voz do poeta, daquele que não ‘escreve de ouvido’.

Nota: 6

 

Nilto Maciel: A mesma preocupação de outros poetas: a de usar o vocábulo “velho”, assim como “tempo”.

Nota: 6


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um ótimo ritmo e uma ótima sonoridade do início ao fim e traz bonitas imagens e metáforas.

Nota: 9

 

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Pseudônimo: Zé das Lavouras (Trajano de Moraes, RJ. 16 anos).

Título: O ex-menino e o passar do tempo

 

 

Um menino perguntou para o tempo

Quantos anos ele viveria.

O tempo respondeu que não diria,

E o menino afirmou não aguentar de euforia.

 

Os anos se passaram.

O menino cresceu,

Trabalhou e logo enriqueceu

Passaram mais alguns anos e o menino envelheceu.

 

O menino que não era mais menino,

E sim um velho. Tomou um tino

Ao ver que o tempo não lhe daria mais tempo

O velho lamentou:

Enquanto vivia,

Tinha que aproveitar.

Pois agora que sou velho

Mais adiantar.

 

Não ter dúvidas

Não negar,

Mais sim aproveitar,

Ate a morte me pegar.

 

Oh não! Compliquei de mais,

Pois agora não posso mais.

Tarde de mais,

Pois fui embora!!!!

 

Não adianta mais correr,

Não, não e não.

Devia ter pensado nisso,

Antes de morrer!

 

Ângelo Farias: Precisa de um toque parnasiano ou assumir verdadeiramente que é oswaldiano. Em poesia é dificílimo achar um lugar calmo para a forma, seja simulacro, seja distanciamento.

Nota: 6,5

 

Ludmila Maurer: Prosaico e com erros gramaticais.

Nota: 5

 

Nilto Maciel: Pela idade do poeta, só se poderia esperar imaturidade. Mas é poeta que poderá crescer (como o personagem de seu poema), pois tem talento e imaginação.

Nota: 7


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim, no entanto, a rima empobreceu o poema. Ele traz poucas imagens e metáforas.

Nota: 7

 

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Pseudônimo: R. (Formosa, GO. 23 anos).

Título: O último ponto final

 

Essa manhã o tempo veio me visitar.

Trouxe algumas fotos amareladas

e um gole de saudade para que eu me alimente.

Conversamos sobre banalidades da vida,

sobre os sorrisos gastos

E pessoas que já partiram...

Coisa de quem já viveu demais.

O tempo trouxe sentimentos

que meu coração ignorava,

pude sentir cheiros que julgava

Não existirem mais e revivi momentos

que estavam a milhas de distância do meu presente insólito,

vazio

e melancólico do fim da vida.

Deitado aqui pude ver o tempo pintar

lindas imagens no teto branco do meu quarto.

Pude ver quanto tempo ganhei,

e o quanto errei em prol de mim mesmo.

Pude entender que essa longa caminhada

cheia de tropeços

se assemelha à poesia

que encontra seus caminhos na folha em

branco, sem linhas.

Que respira nas vírgulas,

que fala nas suas aspas, que aguarda um recomeço nas suas reticências e pontos finais.

Os anos que me cabem são resultado

desse poema sem título,

desses versos sem métrica,

toscamente escritos;

Da união de grafite e sentimento,

alma e corpo.

E agora que o tempo veio me buscar

posso dizer, sem pudor ou pesar

que vivi e amei.

Escrevi, enfim, minha história...

Essa linha do tempo que encontra aqui seu ponto final

mas que se perpetua na eternidade

através das palavras

que deixei.

 

Ângelo Farias: Se se sofre como Werther, talvez, apenas talvez, valha a desopressão. Caso não, o poeta tem mesmo é de ser um fingidor.

Nota: 7

 

Ludmila Maurer: Falta o estranhamento peculiar à poesia.

Nota: 5,5

 

Nilto Maciel: As palavras parecem soltas, necessitando de argamassa.

Entretanto, o poeta, ainda jovem, soube criar um personagem velho.

Nota: 7,5


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma sonoridade do início ao fim e traz bonitas imagens e metáforas, embora um tanto gastas.

Nota: 7,5

 

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Pseudônimo: Paul Celan (Taguatinga, DF. 46 anos).

Título: O Tempo e a Chuva

 

 

Como esta chuva que sorvo em minhas mãos,

Assim a areia do tempo

Transforma meu ser;

 

Tenho em mim um velho,

Tenho apenas o canto

Da cigarra morta

Nesta solidão do mundo das

palavras;

 

Tenho apenas o osso,

O sacrifício da ausência

indomável,

semente do nada;

 

Tenho apenas as redes da

matéria bruta

Tragando os peixes-poemas,

Canções do acaso, gritos

mudos, bois e lobos

no olho esquecido;

 

Tenho apenas o tumulto

Nesta grei onde se confia à

Aurora e às estrelas.

 

Ângelo Farias: Aqui a questão presente é aquela da condição das imagens estruturantes do poema. Isso tem de ser observado para que boas iluminações não se percam.

Nota: 7,5

 

Ludmila Maurer: Bom uso de anáfora e metáfora, ainda que se note certa vaguidão do pensamento.

Nota: 7,5

 

Nilto Maciel: Poema bem elaborado, quer no uso de metáforas, quer na sintaxe. O tempo a passar.

Nota: 9


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um ótimo ritmo e uma ótima sonoridade do início ao fim e traz lindas imagens e metáforas, fugindo do senso comum.

Nota: 9,5

 

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Pseudônimo: Ivanúcia Lopes (Marcelino Vieira, RN. 23 anos).

Título: Passatempo

 

Nas rugas. No olhar.

Um risco. Rabisco. Um cisco.

Marca do tempo no velho.

Brilho do tempo no novo.

Mão em punho. Rascunho.

Ansiedade. Destino. Ocasião.

Passa velho. Passa menino. Passa a estação.

Arrisca um passo.

Risca um traço.

Passa a limpo.

Passatempo.

 

 

Ângelo Farias: Bandeira ta gritando para a gente pegar um trem de ferro com ele para chegarmos onde você mostra que pode. Vamos?!

Nota: 6,5

 

Ludmila Maurer: Faltou conexão, o que traria um sentido mais coerente em certas passagens e o ritmo desejado.

Nota: 6,5

 

Nilto Maciel: O uso sistemático de palavras soltas não dinamiza o poema.

Nota: 6


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um ótimo ritmo e uma ótima sonoridade do início. No entanto, traz poucas imagens e metáforas.

Nota: 8,5

 

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Pseudônimo: Paracauam (Trofa, Portugal. 47 anos).

Título: Promontório

 

 

Ao tempo pouco

Se lhe importam

As rugas

Que o velho tem

O tempo tão mais

Velho que o mais

Velho dos homens


E de novo pensa

O velho em seus

Momentos contados

E conta histórias

De um tempo

Passado a limpo

Louça lavada

No rio que passa

Que apenas passa

Tão-somente uma vez

No mesmo lugar


Lugar que é

Suporto no tempo

Ficar – não – passar

O velho

Simplesmente

Acaricia as marcas

Que o tempo

Lhe escavou

Na pele

Como ventania

Insistente que rasga

A face da rocha

Resistente

O velho é uma

Falésia a olhar

O mar

Que bate a seus

Pés

O velho é uma

Rocha que se

Faz areia

Nas praias do tempo.

 

Ângelo Farias: Se vai jogar assim, não deixe as peças esparsas e tímidas. Formalize mesmo as redondilhas – elas fazem muito pela poesia há tempos – e escute – não estou dizendo “goste” – um pouco de Engenheiros do Hawaii também.

Nota: 7,5

 

Ludmila Maurer: Falta a surpresa e o uso de diferentes significantes ao retomar o tema.

Nota: 6,5

 

Nilto Maciel: Muita preocupação com o uso do vocábulo "velho”. Mas, há bons momentos no poema.

Nota: 7


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim e traz bonitas imagens e metáforas.

Nota: 8

 

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Pseudônimo: Alan de Longe (Betim, MG. 42 anos).

Título: Quinquagésimo ano

 

 

Tanto mais me aproximo dos “cinquenta”,

mais turvados vejo meus horizontes;

a vida, como o sol, por traz dos montes.

em tom de crepúsculos se apresenta.

 

E a este temor sombrio se me acrescenta

esvaírem os dias quais águas nas fontes,

Que jamais retornarão às mesmas pontes,

Tanto mais me aproximo dos "cinquenta”.

 

Decerto, que melhor vivo e senil,

que vir a perecer na juventude.

Mas a idade traz desventuras mil

 

pois já não gozo um sorriso tão amiúde,

da alentada esperança juvenil

e me avizinho, dia a dia, do ataúde.

 

 

Ângelo Farias: A poesia acena com um ápice na segunda estrofe, mas depois Camões não nada mais. Que houve?! E o soneto que não se quer italiano, nem inglês nem monostrófico. Que timidez é essa?

Nota: 6,5

 

Ludmila Maurer: Necessita mais apreciação estética; tom poético.

Nota: 6

 

Nilto Maciel: Muito discursivo e lamentoso em excesso.

Nota: 6


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim e traz bonitas imagens e metáforas.

Nota: 8

 

 

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Pseudônimo: Aline Monteiro (Macapá, AP. 25 anos).

Título: Resistência

 

Tu permaneces...

Resiste.

Indestrutível.

Inabalável

Como árvore centenária,

Monumento histórico,

Sete Maravilhas do Mundo.

Parece não te importar

Quando

Um dia te tiraram

O frescor da pele,

O brilho dos olhos.

A cor dos cabelos.

A força do teu corpo...

Andas insistindo

Nos afazeres domésticos

Na poeira que ninguém vê

No quadro torto que não notei...

O que te fez resistir à tormenta?

O sofrimento é opção constante,

Tua cruel companhia...

Mas tua força

É de uma criança recém-nascida

A chorar insistentemente por comida

Não há mal que dure para sempre?

Do teu lado

Serei eternamente aprendiz

Da tua incontestável

Habilidade de renascer...

 

 

Ângelo Farias: Vale rever a expressão verbal da cronologia. Será que o leitor não vai ter dificuldade de acompanhar como em frente a uma exótica Nordic Walking?

Nota: 7

 

Ludmila Maurer: Linguagem comum. Falta densidade poética.

Nota: 5

 

Nilto Maciel: O poema precisa de mais seiva.

Nota: 6


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim e traz bonitas imagens e metáforas. Bonita relação entre a morte e o renascimento.

Nota: 8,5

 

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Pseudônimo: Semprepoeta (Ipatinga, MG. 46 anos).

Título: Ressonâncias do tempo

 

O tempo...

Um trem...

Tempos de menino...

O trem que vem

Rasgando o cerrado,

Traz boas novas

Às cidades e vilas

Incrustadas nas serras de Minas.

Um trem...

O tempo...

O trem que passa

Traz o minério

E leva o aço.

Tempos de trabalho,

Progresso e mocidade...

O tempo...

Um trem...

O trem passa,

Traz o amor

Que o tempo leva.

O ir e vir encontram-se

Na estação e se entrelaçam

No coração dolente da maturidade.

Trens não andam para trás.

Tempos não voltam jamais.

Seguem

Em trilhos paralelos,

Por túneis desconhecidos

Rumo ao porvir.

Um trem...

O tempo...

São fragmentos de lembranças...

Cochilando na varanda,

O velho senhor escutou

O assovio de uma criança

Parecido com o apito de um trem.

Muito distante,

Quase inaudível...

E voltou ao passado.

Reminiscências...

Ressonâncias de um tempo...

Um trem...

Uma saudade...

Foram-se as Marias,

Dos vagões e das carícias.

Fumaça agora, só das fábricas.

Nada incide em sua vida,

Além de contemplar os verdes montes

Que os edifícios ainda não cobriram.

Lembranças do velho senhor...

Bibelô na cadeira de balanço

Esquecido pelos da casa.

Reminiscências...

Ressonâncias de um tempo...

Um trem...

Uma saudade...

 

Ângelo Farias: Acho que aqui faltou um coração numeroso drummondiano para a fusão trem-tempo tão maravilhosa que você ensaiou.

Nota: 8

 

Ludmila Maurer: O texto se perde no lugar comum.

Nota: 5,5

 

Nilto Maciel: Mais contida do que os demais. O trem, o tempo, essas imagens estão bem de acordo com o tema da velhice, do passar o tempo.

Nota: 8


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um ótimo ritmo e uma excelente sonoridade do início ao fim e traz bonitas imagens e metáforas. Embora relacionar o trem ao tempo não seja uma ideia nova, o poeta consegue fazer tal comparação com maestria.

Nota: 9

 

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Pseudônimo: Ambrosio Marrozinho (Casa Verde, SP. 33 anos).

Título: Tarde que finda

 

 

sou a tarde que finda
descorando e descontente
numa rapidez tamanha
ainda que lentamente

 

Ângelo Farias: Pense na sacada da piada rápida ou na surpresa de uma revelação de Hitchcock ou de Kubrick. São essas e outras que os formalistas russos apontavam.

Nota: 6,5

 

Ludmila Maurer: Falta elemento pertinente ao tema.

Nota: 5

 

Nilto Maciel: Um retrato de velho.

Nota: 6


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema tem um bom ritmo e uma boa sonoridade, mesmo sendo curto. Ele traz uma linda imagem, um recorte fotográfico sobre o tempo.

Nota: 8

 

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Pseudônimo: Bambina (Paranaguá, PR. 23 anos).

Título: Velho Boêmio

 

Os ponteiros insistem em girar

Já não há mais tempo

Os dias, as horas, os minutos

Escorrem por entre lembranças

Não posso parar

 

Esse tic-tac me desola

A escola da vivência está no fim

É tudo a toda hora

 

Ainda posso ouvir o som do clarim

O gosto do gim e o estalo do carteado

Quando jovem soprava forte

Hoje, falta-me o fôlego e a sorte

 

Quebro meus relógios

Já não me importa as horas

Qualquer minuto já é prêmio

Do que restou deste velho boêmio

 

Ângelo Farias: Chacal disse: Fala, palavra! E também: O jeito é deitar e rolar. E você não deixa o chacal sair... Ah!

Nota: 7

 

Ludmila Maurer: Necessita mais apreciação estética; tom poético; enlevo.

Nota: 6

 

Nilto Maciel: Falta poesia. Prosaico demais.

Nota: 6


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim e traz bonitas imagens e metáforas. Relação interessante entre tempo e boemia.

Nota: 8,5

 

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Pseudônimo: Príncipe Desavisado (Juiz de Fora, MG. 29 anos).

Título: Velhos tempos

 

 

tempo transborda de relógios calendários

extrapola o entendimento humano;

marca ao passar.

 

o velho senta-se à varanda da casa a mirar

o horizonte: há tanto em que pensar!

o mundo de hoje já não é mais o mesmo

o tempo mudo muda as coisas como o vento

bailando sobre dunas; no rosto carrega seus

vincos pequenos vícios qualidades e tudo

o que mais compõem um homem: alma & coração.

 

o velho é sábio por pai e avô

é sábio por sempre filho

a procurar aprender sobre os novos movimentos –

até as palavras ganham diferentes empregos –,

meu Deus, como a vida é boa e voa sem que se sinta

seu bater de asas ininterrupto.

 

o velho calmo é calvo a rir da infinidade de cortes

estranhos da molecada;

e seu sorriso artificial a admirar a tecnologia

de divertidos aparelhos dentários coloridos;

a lembrar Pelé e Garricha Zico e Júnior Romário e Ronaldo

a estranhar chuteiras multicor em pés de nem tão craques assim.

 

o velho vê através do tempo

alinhado a ele seu aliado de sempre

suas horas de satisfação saltam de seus olhos

em encantamento retornam são novamente

reais ao velho homem a reconstruir velhas

coisas gestos objetos a vida volta e vai a voar.

 

o velho recosta-se à varanda do mundo

o velho e o tempo

 

velhos tempos.

 

Ângelo Farias: Seu texto pode ser um ótimo convite para uma prece com Murilo Mendes, mas ele só vem se também você desacreditar esse didacticism ianque.

Nota: 7,5

 

Ludmila Maurer: Texto pensado em prosa, quando o forte é a eliminação de ambiguidade. Já a poesia tem outra pretensão: sugerir várias coisas além daquilo que se está dizendo, ou melhor, dizer o indizível.

Nota: 5

 

Nilto Maciel: Muito alongado, sem necessidade. O tema não está sendo bem tratado aqui.

Nota: 7


Márcia Barbieri: O poema está adequado ao tema. O poema consegue manter um bom ritmo e uma boa sonoridade do início ao fim, embora esse ritmo se quebre em alguns momentos. Sinto falta de imagens e metáforas mais contundentes.

Nota: 7,5

 

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O Campo Platônico do Top 17 foi composto por: Bernardo Cabral, Ambrosio Marrozinho e Zé das Lavouras. Os eliminados foram: Ambrosio Marrozinho e Zé das Lavouras.

 

TOP 15

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